quarta-feira, 29 de julho de 2009

290709 - Notícias do Nassif

Clichês de campanha
Pessoal
Nem tanto ao mar nem tanto à terra.
Comparar o desempenho econômico do país de Lula ao de Fernando Henrique é contrapor ao roto, o esfarrapado. Não há crescimento há 12 anos. Nos dois governos, as reformas micro-econômicas caminharam a passo de tartaruga – embora no de FHC tivesse sido aprovada a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e definido o modelo das agências reguladoras. Foram bons passos. Mas se deixou uma infra-estrutura em frangalhos, contas públicas claudicantes, setor externo sofrível. De Lula para cá só mudou o setor externo por conta da explosão dos preços das commodities e a desvalorização cambial de 2002. Na verdade, Lula jogou pela janela a desvalorização cambial.
Por outro lado, tem sido repetido à exaustão que o “Bolsa Família” não exige contrapartida dos beneficiários. Exige sim e há um monitoramento muito bem feito, inclusive com o auxílio do MEC, do IBGE da FGV-RJ e do economista Ricardo Paes de Barros – considerado o “papa” dos “focalistas”, defensores de políticas sociais focadas, que sempre foi apresentada


Frei Betto e Deus

Uma pequena maldade com Frei Betto, lendo sua homilia de domingo na “Folha” (clique aqui), “Valoriza o Teu Voto”:
“Nas eleições deste ano, não te submetas ao desencanto, à inércia, à frustração, fraudando o teu voto como moeda sem valor."
Certa vez, Frei Betto chegou para o romancista Raduan Nassar e perguntou: “Raduan, o que eu faço para escrever como você?”. E Raduan: “A primeira coisa é parar de falar em Deus nos seus escritos”.

O Sr. Crise
João Sayad propõe um desafio instigante no seu artigo de hoje na “Folha” (clique aqui). Diz ele que a história é acaso. Às vezes, nos momentos mais imprevistos, surge o fato a marcar o início da nova era. Mostra que às vezes personagens centrais são marionetes, às vezes é a sorte que determinada.
De certo modo, é continuação da bela discussão que tivemos no DNA Brasil, quando expus as conclusões de meu livro “O Cabeça de Planilha”. No dia, o que Sayad propôs para discussão era se os desastres do câmbio no Real, com todas suas implicações posteriores, foi obra de indivíduos, decorrência da história, azar.
Pegando o mote de Sayad, em relação à história recente do país, os anos 80 são considerado a década perdida, e neles se moldou o novo país que deveria nascer nos 90. No auge do desencanto com Collor, estava sendo parido o novo Brasil. No auge do encantamento com o Real, estavam sendo plantadas as raízes para a estagnação da economia na década seguinte.
E hoje? Da crise nascerá um novo país ou um novo caos que levará a um novo país? Digo o seguinte: nenhum país passa incólume pelo volume de discussão gerado pela crise.
Já escrevi várias vezes que o maior estadista do Brasil é o Sr. Crise. Pois ele está presente, com uma intensidade (em termos de discussão) poucas vezes vista.
Que o país não será o mesmo, definitivamente não será. O que vem pela frente, se o que for, será elemento crucial para romper a inércia da estagnação, ou por bem ou por mal.

Um jogo de perde-e-perde
Vamos a algumas considerações sobre Lula vs mídia, do ponto de vista exclusivo do posicionamento de mercado dos veículos.
Emir Sader, que é militante assumido, julga que, com a constatação da semelhança de estilos entre o editorial de domingo da “Folha” e Carlos Lacerda, eu estaria provando que o editorial é “lacerdista” e quer derrubar Lula. Ué, é evidente que, neste momento, ocorre uma competição entre praticamente todos os grandes veículos da mídia para saber quem derruba Lula primeiro.
O que vou tentar analisar, nesse post, é visão de competição na mídia.
Momentos de catarse são fundamentais para permitir a consolidação (ou a queda) de veículos. A campanha das diretas e do impeachment são provas cabais do potencial desses momentos.
Vive-se, agora, um novo momento de catarse e existe uma ânsia para se aproveitá-lo e garantir espaço junto ao público nos próximos anos. É uma competição para saber quem se diferencia em torno do mesmo objetivo.
Independentemente do conteúdo, o editorial inspirado no estilo de Lacerda, o maior carbonário da história da imprensa brasileira, faz parte da busca dessa diferenciação.
Na semana passada, o “Globo” colocou na primeira página as perguntas de Lula, em relação à compra de dossiê, e a resposta do jornal: pergunte ao seu companheiro A, que fez isso; pergunte ao seu companheiro B, que fez aquilo. Foi um recurso muito bem sacado, com impacto efetivo.
Um recurso forte, mas que deve ser utilizado com moderação, é o editorial na primeira página. O editorial da “Folha” contra Collor, depois da invasão do jornal e do processo contra jornalistas, foi um dos pontos altos do jornalismo dos anos 90.
O erro da competição atual, em minha opinião, é que todos os veículos caminham praticamente na mesma direção, fazendo uma aposta na qual não se tem possibilidades de vitória.
O jogo, hoje em dia, é muito mais complexo do que na campanha contra Collor. Na época, havia na classe média um sentimento anti-Collor forte, porém ainda difuso; e um temor reverencial que deixava a imprensa relutante em cruzar o Rubicão. Por isso mesmo, na época o editorial da “Folha” foi um divisor de águas. Captava o sentimento do leitor no justo momento da virada, enfrentava riscos, desnudava o poderoso.
O momento agora é outro. A imprensa não é mais um poder em ascensão, mas um poder consolidado e temido. Não há entre os formadores de opinião o mesmo consenso que havia contra Collor. Lula tem erros enormes, como o “mensalão”, mas acertos enormes como a “Bolsa Família” e a incorporação definitiva das classes C e D às políticas públicas. É odiado por uma parte da opinião pública, amado por outra; e há um terceiro grupo que tem a estabilidade e a legalidade como valores maiores. Mais que isso: embora o PT e o governo sejam pródigos em dar motivo para o prosseguimento de campanhas anti-Lula, a catarse não é elemento auto-sustentável. Campanhas baseadas na catarse têm vida curta, cansam, esgotam.
Nesse contexto, jogar todas as fichas na queda de Lula é uma dupla armadilha, da qual não se tem como sair vitorioso. Se Lula fica, a mídia é derrotada. Se Lula cai, a mídia é derrotada. O fogo se alastra, e todos os problemas que o país enfrentar, a partir dali, serão tributados aos que derrubaram o governo, seja mídia, sejam lideranças políticas.
Depois de janeiro, os que estão crescendo, agora, com a exacerbação e a catarse, tendem a cansar. E os negociadores tendem a crescer. Leia a excelente entrevista de Elizeu Resende (candidato ao Senado em Minas pelo PFL) à "Folha" de hoje, comprovando o enorme potencial pós-eleições do "pacto mineiro".
Está-se tentando repetir a história, quando o momento seria propício para o veículo que se colocasse acima das paixões, recuperasse a técnica jornalística e se comportasse como magistrado, duro, inflexível, porém justo, colocando a preocupação com o país acima das conveniências de momento. A diferenciação teria que ser no enfoque, não no estilo. Mas, para isso, a mídia teria que sair desse ambiente auto-referenciado.

EXTRAIDO DO BLOG DO LUIS NASSIF

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